Critérios para a habilitaçom terminológica e lexical em galego

 

 

         Como se mostra no Manual de Galego Científico (pág. 20-34; cf. tb. artigo "Estado actual e perspectivas da norma lexical"), a estratégia (mais) natural, económica e eficaz para disponibilizar em galego terminologia científica e técnica (e, em geral, léxico culto) consiste na convergência ou coordenaçom constante com o léxico luso-brasileiro, através das seguintes seis medidas ou critérios:

 

1.º- Medida contra o processo degradativo da variaçom sem padronizaçom: Seleccionar como supradialectal, dentre umha série de variantes (geossinónimos) existentes no galego espontáneo, aquela voz que se emprega como supradialectal no ámbito luso-brasileiro, ou a mais próxima da voz supradialectal luso-brasileira. Assim, por exemplo, amêijoa (zool.), eixo (tecnol.), enxofre (quím.), fento (bot.), guelra (anat.), janela oval (anat.), rim (anat.) e sabugueiro (bot.) devem ser preferidos, para os usos formais, a, respectivamente, ameija, eixe, xofre, fieito (e felgo, etc.), guerla (e galada, etc.), fiestra oval (e *ventá oval!), ril e bieiteiro (e birouteiro, etc.).

 

2.º- Medida contra o processo degradativo da substituiçom: Restaurar plenamente os significantes e significados genuinamente galegos (comuns ao actual luso-brasileiro!) suplantados na actual fala espontánea por significantes ou significados castelhanos. Exemplos: janela (em vez de *ventá ou *ventana), óleo (com o significado amplo de 'substáncia gordurenta', reservando azeite para 'óleo extraído da azeitona'), queda (melhor do que caída), sino (em vez de *campá ou *campana).

 

3.º- Medida contra o processo degradativo da erosom (e suplência): Restaurar ou repor as unidades lexicais (próprias dos registos cultos) na sua forma genuína (comum ao luso-brasileiro actual!) esquecidas (= erodidas) na Galiza a partir da postergaçom sociocultural do galego-português que impugérom os Séculos Obscuros, expurgando, no seu caso, castelhanismos suplentes. Exemplos: após, assaz, cauda (nom *cola), cratera (nom *cráter), cujo, porém.

 

4.º- Medida contra os processos degradativos da estagnaçom e da suplência: Nos ámbitos conceptuais da estagnaçom lexical (conceitos abstractos e do mundo institucional e da cultura; conceitos relativos a objectos concretos cujo aparecimento se produziu durante o dilatado período que abrange desde o início dos Séculos Obscuros até à actualidade; conceitos relativos a realidades exóticas; conceitos do mundo urbano; conceitos especializados, veiculados polas diferentes línguas especializadas: administrativas, jurídicas, eclesiásticas, profissionais, técnico-científicas), adoptar a pertinente soluçom luso-brasileira, expurgando, no seu caso, o correspondente castelhanismo suplente. Por exemplo: compota (alim., 'doce pastoso para barrar feito de diversas frutas'), lámpadacandeeiro  lustre (tecnol., equiv., respect., das vozes cast. bombilha  lámpara  araña), neurónio (fisiol., 'célula nervosa'), nomeaçom ('acto de nomear'), oxigénio (quím., 'elemento gasoso de número atómico 8'), percurso (tecnol., 'acto de percorrer'), surto (med., 'irrupçom brusca de doença'), tubarom (zool., 'peixe cartilagíneo pleurotremado'), vela (de igniçom) (mec., 'peça dos motores de explosom onde se produz a faísca').

 

5.º- Complementarmente à medida n.º 4: Nos ámbitos conceptuais da estagnaçom (e suplência) lexical, no caso de nom coincidir o termo usado em Portugal com o do Brasil, adoptar, atendendo a um critério de proximidade lingüística, cultural e geográfica, e até nom se atingir umha efectiva unificaçom terminológica, a soluçom conhecida em Portugal. Por exemplo: antigénio [Pt] e nom antígeno [Br] (med.), frigorífico [Pt] e nom geladeira [Br] (tecnol.), pirite [Pt] e nom pirita [Br] (mineral.), veio de excêntricos [Pt] e nom árvore de cames [Br] (mec.).

 

6.º- Complementarmente à medida n.º 4: Nos ámbitos conceptuais da estagnaçom (e suplência) lexical, no (raro) caso de existir na Galiza umha forma lexical terminologizável que seja genuína e diferente da habitual em luso-brasileiro, promover na Galiza o uso da soluçom galega genuína terminologizada, mas difundindo aqui também o conhecimento da correspondente forma luso-brasileira. Exemplo: chave de cuitelo [Gz], junto com chave de faca [Pt+Br] (electr.).